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Marketing é o maior desafio para empreendedoras negras; donas de negócios contam suas estratégias

25/07/2025


Marketing é o maior desafio para empreendedoras negras; donas de negócios contam suas estratégias

A profissionalização do marketing da loja colaborativa Afrocentrados veio por uma necessidade. “A demanda dos clientes aumentou e começaram a chegar feedbacks negativos e dúvidas de onde nos encontrar, como comprar, informações de catálogo, etc", diz Cynthia Paixão, que fundou o negócio em 2021 em Salvador, na Bahia. “No começo era tudo feito por mim, como dava. Mas entendi que precisava de ajuda.”

A empreendedora, hoje com 39 anos, contratou uma agência para ajudá-la nas estratégias de marketing focadas no digital. “Comecei com 13 marcas e, em menos de um ano, abri a segunda loja com 50. Seis meses depois, passei para 180 marcas", diz em entrevista a PEGN. “O marketing foi fundamental para expandir o negócio e atrair novos empreendedores para a rede, pois eles entendiam que a estratégia que eu aplicava ajudaria o crescimento deles.”

A dificuldade enfrentada por Paixão não é isolada. De acordo com uma pesquisa do Instituto Rede Mulher Empreendedora (RME), o marketing é hoje o principal desafio para mulheres negras que empreendem no país. O estudo revela que 43,2% das entrevistadas — todas mulheres pretas ou pardas — apontam a divulgação do próprio negócio como seu maior desafio. O índice supera temas tradicionalmente apontados, como gestão financeira (39,4%) e acesso a crédito bancário (34%).

Para Ana Fontes, fundadora da RME, o dado escancara uma desigualdade estrutural. “Assim como a maioria do público feminino, elas têm falta de acesso a redes de contato, dificuldade em obter crédito, ausência de apoio técnico e outros. Mas elas também sofrem um grande preconceito, muitas vezes velado e nas entrelinhas de todas essas camadas", afirma. “As empreendedoras negras ainda são invisibilizadas, mesmo quando criam produtos e serviços de excelência.”

Com isso, ela diz que é preciso ir além da capacitação técnica destas mulheres, construindo redes e fortalecendo sua autoestima. “A comunicação e o marketing são pilares fundamentais para o crescimento de qualquer negócio, mas, sem suporte, investimento e senso de merecimento, se tornam um entrave.”

A empreendedora Daniela Benoit, fundadora da Connecting Brains, atua criando estratégias de marketing para outras empresas, incluindo empreendedoras negras. “Essas mulheres, em sua maioria, começaram 'na raça', sem estrutura, mas com muito talento. Já validaram seus negócios, têm reconhecimento, mas os bastidores continuam desorganizados — especialmente no marketing", diz.

Segundo a especialista, muitas não têm coerência entre produto e imagem, ou não entendem o papel do marketing na venda. “Elas cresceram com vendas orgânicas, mas chega um ponto em que o crescimento trava porque falta uma identidade de marca consolidada, uma estratégia integrada de vendas e comunicação", diz a empreendedora.

Marketing profissional
Antes de fundar a Afrocentrados, Paixão teve a loja de biquínis plus size CyndBiquínis, na qual apostava na divulgação boca a boca — e considerava isso suficiente. “Meu marketing era emocional, baseado na escuta, acolhimento e transformação”, diz. No entanto, ao criar a loja colaborativa, percebeu que precisava expandir a abordagem. “Outras marcas começaram a caminhar comigo, e eu não podia mais comunicar só pela minha voz; precisava contar a história delas também e mostrar seus produtos.”

Apesar de compreender a importância do marketing, a empreendedora via o custo da implementação como um obstáculo. Com o tempo, entendeu que esse investimento de uma agência profissional, na verdade, poderia alavancar seus negócios.

Para ela, é fundamental não abrir mão da conexão emocional ao falar sobre a sua loja e sobre a história por trás dos negócios que fazem parte da Afrocentrados.

“Hoje, com tantas tecnologias e inteligência artificial, acredito que muitos empreendedores esquecem da essência. Fazer marketing emocional, explicar por que você empreende, por que serve aquele público e qual o poder transformador do seu negócio, é o diferencial principal”, afirma Paixão.

Trabalho na autoestima
Mesmo com formação em Comunicação, Barbara Brito, fundadora do laboratório de comunicação MEQUElab, afirma que o marketing foi um desafio desde o início do negócio, em 2022. “Acredito que, de forma geral, é difícil para mulheres pretas empreendedoras se autopromover. Existe uma questão muito específica ligada à autoestima e à forma como o mercado nos enxerga.”

Segundo a carioca de 31 anos, que também é presidente do Jantar Preto, um evento para profissionais negros da economia criativa, o diferencial para melhorar a própria autoestima sempre foi valorizar a cultura e a identidade negra internamente no negócio. “Fomos trabalhando isso aos poucos, trazendo profissionais negros para dentro da empresa, pessoas que conseguiam enxergar nossa cultura e identidade como um diferencial na comunicação. Investimos bastante em storytelling para fortalecer a proposta do negócio e também em capacitação contínua na área de marketing", diz.

Além de empreendedora, Brito atua como influenciadora digital, utilizando seus aprendizados de funcionária de uma grande empresa por oito anos. “Minha marca pessoal foi construída com base no que acredito. Queria ser uma mulher preta que pudesse falar sobre negócios, mercado de trabalho e empreendedorismo de forma prática, direta, sem firulas", afirma. Hoje, ela tem mais de 160 mil seguidores no Instagram.

Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios

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